Porto do Capim mantém viva a memória da fundação de João Pessoa

Andar pelas ruas do Porto do Capim, no bairro do Varadouro, é como voltar no tempo. Localizada às margens do Rio Sanhauá, essa região representa o ponto de origem da cidade de João Pessoa, que completa 440 anos neste 5 de agosto. Reconhecida como a terceira capital mais antiga do Brasil, a cidade nasceu ali, entre o rio e o casario antigo, que ainda guarda marcas do período colonial.
A história do Porto do Capim remonta à fundação da então cidade de Nossa Senhora das Neves, em 1585. O local foi escolhido por sua posição estratégica, com fácil acesso fluvial e condições favoráveis à defesa contra invasões estrangeiras. Ao redor, surgiram o forte, o atracadouro e a capela de Nossa Senhora das Neves. Pouco depois, vieram as primeiras vias, como a Rua Nova (atual General Osório) e a Rua Direita (hoje Duque de Caxias), que concentravam os primeiros prédios administrativos da cidade.
Durante o período colonial, a região era o coração político e econômico da cidade. A atual Praça Rio Branco, por exemplo, abrigava o Erário Público, a Câmara Municipal, o mercado, a cadeia pública, os Correios e a casa do Capitão-mor. Era um espaço de intensa convivência e tomada de decisões — funções que, em parte, ainda se mantêm com eventos como o ‘Sabadinho Bom’, promovido aos sábados pela Prefeitura.
A estrutura urbana da cidade também foi marcada pela presença de ordens religiosas. Quatro delas ajudaram a definir a malha urbana do quadrilátero central: os Franciscanos (com o Convento e Igreja de São Francisco), os Jesuítas (Convento e Igreja de São Gonçalo), os Carmelitas (Igreja do Carmo) e os Beneditinos (Igreja de São Bento). Esse traçado ainda pode ser observado no atual Centro Histórico.
O Porto do Capim também teve papel importante no crescimento econômico da cidade. Funcionando como um dos principais portos fluviais da Paraíba, ele foi essencial para o escoamento da produção de açúcar. Com a construção do Porto de Cabedelo, em 1935, o local entrou em declínio econômico, mas continuou abrigando comunidades ribeirinhas, que sobreviveram com a pesca e o comércio informal, mantendo viva a tradição local.
Hoje, cerca de 500 famílias vivem na comunidade do Porto do Capim. A região está incluída no projeto de urbanização do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), na modalidade “Periferia Viva – Urbanização de Favelas”, com investimento previsto de mais de R$ 100 milhões, incluindo R$ 7 milhões de contrapartida da Prefeitura de João Pessoa.
Para especialistas, como a professora Ariane Sá, do Departamento de História da UFPB, a ocupação original de João Pessoa seguia a lógica da colonização portuguesa: uma cidade com sede administrativa, base de poder metropolitano e ponto estratégico para intermediação de produtos da economia rural. O Porto do Capim, nesse contexto, foi fundamental.
O nome da cidade também guarda essa herança histórica. Inicialmente chamada Nossa Senhora das Neves, a cidade passou por outras denominações, como Filipéia, Frederikstadt e Parahyba do Norte. Em 1930, após o assassinato do então presidente da Paraíba, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, a capital passou a levar seu nome, em homenagem ao político, cuja morte teve forte impacto na política nacional e foi um dos estopins da Revolução de 1930.
Mais que um ponto turístico, o Porto do Capim é símbolo de resistência, identidade e memória para João Pessoa. Em cada ruela, muro e margem do rio, pulsa a história de uma cidade que nasceu entre as águas e cresceu com o tempo, sem jamais esquecer suas origens.