Pictures at an exhibition
Alberto Arcela
O título é uma referência ao álbum homônimo de um dos mais importante trios do rock and roll, formado por Keith Emerson, Greg Lake e Carl Palmer, e através dele faço uma livre comparação de como o celular e as mídias sociais popularizam a produção e exibição de fotografias das pessoas,nas mais diferentes fases de suas vidas.
E afirmo isso com muita propriedade e experiência própria, ao constatar que conto nos dedos registros da minha vida quando criança e jovem, que não sejam a lembrança escolar de gosto duvidoso e uma ou outra recordação de uma festa de aniversário.
A exceção eram as festas de quinze anos das meninas, as chamadas debutantes, que eram imortalizadas em álbuns e aconteciam quase sempre nas casas das famílias. Ainda hoje lembro de uma delas, da minha prima Sara, que levou muita gente à rua Santos Dumont, nas imediações da Lagoa.
E tínhamos também os casamentos, que eram devidamente registrados nas igrejas, com as devidas limitações impostas pelo tempo. Bem diferente dos tempos atuais, quando temos o pre wedding e tudo o mais.
Não sou saudosista de carteirinha, como meu amigo Silvio Ricardo, e por isso acho que ganhamos muito com a evolução que aí está, até mesmo porque gostaria de ter em mãos registros dos meus tempos de cabelos longos, como os Beatles e os Rolling Stones.
No contraponto dessa falta de memória visual, tenho fotos e vídeos da minha filha mais nova até mesmo no trabalho de parto, e cheguei a utilizar parte dessa captação num comercial de TV para a construtora Vertical.
Na contramão dessa experiência, já bem mais recente, me vali de uma Kodak sem grandes recursos, para imortalizar passeios extraordinários na ilha de Fernando de Noronha e Chapada Diamantina.
E ainda sobre a realização de comerciais e documentários, é bom lembrar que não existia também o making of no formato como o conhecemos hoje. Até mesmo porque não tinha para quem mostrar, além dos que estavam envolvidos no projeto.
Logicamente que também há um certo exagero nesse processo atual, mas algumas pessoas necessitam dessa exibição para alimentar o seu ego, que por sua vez flerta infinitamente com a vaidade e a aculturação de um modo geral.
Talvez por isso, determinadas pessoas façam questão de mostrar os pratos caros que pedem nos restaurantes de luxo, esquecendo que boa parte da população não tem sequer o que comer.
Exageros à arte, no entanto, acho a prática um avanço no universo da captação da beleza, sendo um importante instrumento de inclusão no momento em que bota todo mundo num mesmo caldeirão, se expondo sobretudo a uma plateia eclética que, como na Roma antiga, no mais das vezes, torce pelos leões.
E é também um prato cheio para os narcisistas, que só acham feio o que não é espelho. E que ainda contam com a ajuda providencial da harmonização facial e de tantas outras técnicas de retoques e ajustes.
Contudo, é melhor assim do que nada. Perdi a oportunidade de fotografar paraísos e poder fazer daquilo um objeto de saudade, uma mera e simples recordação. Nem era preciso que tanta gente visse, curtisse e compartilhasse com seus amigos.
Bastava estar ali, ao alcance das mãos. Com ou sem cores. O importante sempre é que a nossa emoção sobreviva.