Os vivos e os mortos
Alberto Arcela
Estive hoje pela manhã no velório do jornalista Agnaldo Almeida, no Parque das Acácias, o maior e mais moderno cemitério da capital, onde pude encontrar dezenas de conhecidos e ex-colegas de trabalho, que comigo militaram nas redações dos jornais e emissoras de rádio.
Já não são tantos de uma fila imaginária que não para de andar, mas que não deixam de assinar o ponto, no que parece ser o menos inesperado ritual ou a mais contundente crônica de mais uma morte anunciada.
Mais uma da roda viva do tempo, e que remete a muitas outras partidas de quem se foi primeiro com mais pressa de chegar.
Talvez por isso uma das primeiras pessoas que encontrei no local foi Maria Luiza, a filha mais velha de Martinho Moreira Franco, um amigo querido de toda uma geração onde se incluem Milton Nóbrega, diretor de arte e o capista oficial de todos, Severino Ramos,
o próprio Agnaldo Almeida, Paulo Soares – médico e escritor – e Gonzaga Rodrigues, esse ainda vivo e escrevendo para o jornal A União.
Juntas, essas mãos abençoadas escreveram e desenharam durante décadas, em máquinas de datilografia e pranchetas, o que de mais relevante aconteceu na cidade, que acolheu a todos os que bateram na sua porta vindos das várias regiões do Estado.
Cheguei a conviver com todos eles, não apenas na Oficina, que era uma espécie de ponto de encontro do grupo, mas também na mesa de bar, que também era redonda na medida em que servia de palco para discussões acaloradas na política e na economia.
Mas, nada que fosse capaz de abalar a amizade e o companheirismo daqueles seres iluminados, que faziam dos bares a extensão do seu trabalho, compartilhando opiniões da maior relevância.
Quanto a Agnaldo, conheci antes, quando fomos morar eu e ele no Conjunto dos Jornalistas, na entrada do Castelo Branco I, nas proximidades do seminário da Arquidiocese da Paraíba, uma iniciativa da Associação Paraibana de Imprensa, coordenada por Ivan Lucena.
Ali residiam nomes respeitados do rádio e da televisão a exemplo de Frutuoso Chaves, o próprio Aguinaldo, seu irmão Arlindo Almeida, Antônio Hilberto e muitos outros.
Vivíamos então uma das melhores épocas do imprensa paraibana, com quatro jornais diários e quatro ou cinco emissoras de rádio, incluindo as primeiras a operarem em frequência modulada.
A publicidade também andava a passos largos, com o escritório da Rede Globo funcionando a todo vapor, no prédio onde funcionava o Banco Real, de modo que não faltava trabalho para quem tivesse talento e disposição.
Nesse contexto, vivenciamos nessa época outros anos dourados do setor, iniciados com a geração de Otinaldo Lourenço e Adalberto Barreto, com uma escola mais contemporânea e realista que marcou o período.
Por tudo isso, a morte de Agnaldo, um dos grandes do seu tempo, deixa a imprensa menor e mais uma cadeira vazia nas redações por onde passou.
A última vez que lhe vi com vida foi na exibição do documentário de Gonzaga, levado pelas mãos de Naná Garcez. Ele sabia que não poderia faltar mesmo a homenagem ao amigo.
Afinal de contas, aquele rio mostrado no filme, havia também passado na sua vida.
Que descanse em paz.