Colunistas

O CASSINO DA LAGOA

Rui Leitão

No livro “Nos Tempos do Pedro Américo”, o médico Paulo Soares refaz os caminhos da boemia pessoense dos anos 60 e 70 sem deixar o Restaurante Universitário, que funcionou no Cassino da Lagoa, fora dessas reminiscências.

O autor narra a instalação do R.U nas dependências do Cassino e como isso foi articulado por estudantes que viram no bucólico local as condições adequadas para a sua instalação.

Nomes como o de Lindbergh Farias, garçom Cobrinha e Zito Falcone aparecem como protagonistas ou coadjuvantes nas negociações, mas foi com a intervenção do governador Pedro Godim e anuência do reitor João Medeiros que a instalação se concretizou.

Após o AI-5, um dos mais truculentos dos chamados Atos Institucionais, o sistema fez o possível para desestabilizar qualquer organização estudantil.

Estavam proibidas as reuniões de cunho político. Uma das primeiras providências foi desativar o Restaurante Universitário que funcionava no Cassino da Lagoa.

Não permitiriam que aquele local continuasse a ser ponto de encontro dos estudantes que discutiam política, nacional e local, os problemas inerentes à vida estudantil e faziam daquele lugar um espaço sempre vigiado e próximo da população que via a estudantada muitas vezes se insurgindo contra os poderosos. Isso levou o R.U a ser transferido para a Cidade Universitária.


O espaço foi cedido ao empresário Domingos Monteiro, dono da Churrascaria Bambu, que decidiu ali instalar um elegante restaurante.

Sua inauguração ocorreu em junho de 1969, em evento que contou com a presença do prefeito da cidade, Damásio Franca, com bênçãos do Monsenhor José Coutinho. A animação da inauguração do restaurante ficou por conta da banda “Os Diplomatas”.

O Cassino da Lagoa foi palco de grandes acontecimentos da história política paraibana. Serviu de palanque para os grandes comícios de encerramento das campanhas eleitorais. Lá discursaram grandes oradores da Paraíba e do Brasil. Foi também “quartel general” das assembleias estudantis, especialmente enquanto sediava o Clube Universitário.

Construído em 1940, num projeto de reurbanização do parque Sólon de Lucena, originalmente conhecido como “Lagoa dos Irerês”, idealizado por Argemiro de Figueiredo e de autoria do engenheiro-arquiteto pernambucano João Correa Lima, o Cassino, em princípio chamava-se “Cassino de Verão”.

Nunca consegui descobrir o motivo dessa denominação.
Até hoje o Cassino da Lagoa funciona como restaurante, sendo ponto de encontro de políticos, jornalistas, advogados e intelectuais, no horário do almoço.

É, sem dúvidas, um dos mais agradáveis ambientes da gastronomia pessoense, não só pelo seu cardápio, mas, principalmente, pela beleza da paisagem de um dos pontos mais importantes da nossa cidade.

Sempre que vou ao Cassino fico imaginando os acontecimentos da nossa história naquele local. De como encravado no centro da nossa cidade, sua fachada de vidro se mistura a cena cotidiana, os que estão de fora veem de relance os comensais; de dentro é possível ver os casais de namorados passeando, pessoas apressadas com sacolas de compras, ambulantes, trabalhadores do comércio que aproveitando a hora do descanso fazem da grama do Parque Sólon de Lucena, cama e refúgio.

No ano de 2022 o Cassino recebeu o selo de Patrimônio da Cidade outorgado pelo Museu da Cidade. Homenagem mais que merecida, reconhecimento da nossa história e da nossa gente.

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