MARIA ISABEL BANDEIRA BRASILEIRA
Rui Leitão
Nas décadas de 60,70 e 80 o cenário urbano da Grande João Pessoa contava com uma figura folclórica que transitava pelas ruas montando uma égua, portando a bandeira nacional tendo como mastro um longo cabo de vassoura, o que lhe valeu o apelido que tanto a irritava. Calçava galochas e usava uma indumentária de cores extravagantes, ornada de colares e broches patrióticos. Sua presença era anunciada por um apito que sempre trazia às mãos. Muitas vezes, se posicionava como guarda de trânsito e assumia o controle do tráfego de motoristas e pedestres, utilizando o apito. E era obedecida.
Além da alcunha que a desagradava, Vassoura era conhecida como Maria Isabel Bandeira Brasileira. Mas logo ela corrigia, substituindo o Brasileira por Melo. Nasceu em Gurinhem, mas veio ainda criança para morar em Santa Rita, de onde diariamente se destinava à Capital em sua montaria. Há registros de que teria se casado, não se sabe em que ano, com um senhor chamado Pedro Buraco. Tendo vivido seus últimos anos de vida no Lar da Providência, onde veio a falecer no ano 2000, ao ser entrevistada por Petrônio Souto afirmou que esse casamento teria feito com que seu juízo “afrouxasse”.
Nunca desmontava da égua, e assim tentava entrar em áreas residenciais, bares e, pasmem, até no Palácio da Redenção. O Governador João Agripino que adorava dar prosa a essas personagens folclóricas, lhe dava muita atenção, mas não há confirmação de que teria autorizado a sua entrada no palácio. Na peregrinação pelo centro e bairros de João Pessoa, quando a chamavam pelo apelido, reagia gritando e correndo atrás dos insultantes: “Vassoura é a mãe”. Claro que depois eram proferidos vários palavrões.
Na famosa tela do artista plástico Flávio Tavares, Reinaldo do Sol, na Estação Ciência Cabo Branco, a imagem dela é retratada, entre personalidades do mundo político, cultural e artístico da Paraíba, por ser considerada uma peregrina urbana que marcou época. Sérgio Botelho, em um dos artigos que vem publicando diariamente, contando Histórias da Parahyba, relata que encontrou um grupo de artistas tocando no último banco de um ônibus e dentre os quais tomou conhecimento que um deles era filho dessa fantástica figura do nosso folclore. Quem viveu a época da sua existência lembra com saudade dos espetáculos por ela protagonizados.