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De mala e cuia

Com um certo atraso, mas no calor dos festejos juninos, peço licença para falar sobre Flávio José e a possível redução de tempo do seu show para favorecer o sertanejo Gustavo Lima no São João de Campina Grande.
O fato foi amplamente divulgado na imprensa nacional, e causou indignação pelo suposto favorecimento a artistas, cujo repertório passa longe do xote. xaxado e baião, marcas registradas do evento.


Em abordagens semelhantes, já deixei clara a minha posição sobre toda e qualquer tipo de xenofobia, e até escrevi a letra de uma canção defendendo a universalização e inclusão em todas as áreas, inclusive culturais.
Mas, como bem disse Luiz Gonzaga, há de se respeitar Januário, que é o verdadeiro embaixador do Nordeste.
É aquela velha tese. Se eu lhe dei vinte mil réis, pra tirar dois e trezentos, você tem de me voltar dezessete e setecentos.
É a chamada sabedoria popular. A mesma dos repentistas e cantadores, capazes de desafiar quem cruza no seu caminho com motes, glosas e rimas como trovadores que são.


Mas, quero crer que não foi de propósito o que aconteceu no parque do povo. E que também não se repetirá porque nossos artistas – os sanfoneiros, em contraponto aos da viola -, não merecem isso.
Até mesmo, porque creio que cabe todo mundo nesse mungunzá. E minha filha acabou de me pedir dinheiro para ver Matheus e Kauan no São João de Bananeiras, um santuário da serra.
E, pra falar a verdade, não sou matuto – os de lá chamam de caipira -, mas celebro a evolução de Campina Grande que entrou no mapa dos grandes eventos do país.


O mesmo país que tem novecentas mil pessoas na lista de espera dos shows de Taylor Swift e que vendeu todos os seus ingressos em quarenta minutos.
Por isso, aplaudo de pé quem está por trás dessa festa.
E faço votos que consiga conviver com as diferenças, até mesmo porque Campina Grande é o berço de Antônio Barros que na sua imensa sabedoria ensinou que no lugar onde bate um coração é sempre proibido cochilar.


E, só pra fechar, confesso que gosto mais de Flávio José.
Mas, isso são outros quinhentos.
E tudo também é uma questão de ponto de vista.
Lembro que Sandy e Júnior cantaram num Rock in Rio. E eu estava lá.
E também lembro que Sandy cantou um dia desses com Chris Martin, do Coldplay.
Vai ver um dia Gustavo Lima faz um dueto com o caboclo sonhador.
E eu vou pagar pra ver.

Alberto Arcela

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