C’est la vie
Alberto Arcela
A presença de Emmanuel Macron em terras brasileiras, despertou em mim a vontade de voltar a Paris, viajar nas suas canções de outrora, comer e beber no Quartier Latin e dar um pulo no Museu do Louvre.
Quanto à música ela marcou um momento da minha vida, em princípio com a pequena Edith Piaf que se fez grande em clássicos como Sous le ciel de Paris e La vie en rose e um pouco mais tarde com Salvatore Adamo e Charles Aznavour, o autor de La bohème.
Por trás de todas essas canções existia um clima único, e um romantismo exarcebado que me remetiam sempre ao amor que puxa a cadeira e estende o casaco para atravessar a poça de lama.
Parte desse clima esteve presente na interpretação de Juliana Steinbach, que emocionou os dois presidentes com um curto recital, que comprovou o talento dessa paraibana de João Pessoa que conquistou Paris.
O mesmo amor, absoluto e verdadeiro, que não tem prazo para acabar, porque é infinito e sempre vai durar ao contrário do que dizia o poeta. O amor de Ne me quittes pas e de Et si tu n’existais pas, de Joe Dassin.
O fato é que a música francesa, assim como a italiana no mesmo período, encontrou espaço por aqui e por um bom tempo foi o melhor e mais harmonioso tira gosto que se viu em nossos bares e salões.
É importante lembrar que esse platonismo foi ameaçado no início dos anos setenta por uma onda de erotismo que revelou canções como Je t’aime moi non plus, de Jane Birkin e Serge Gainsbourg, e a pegajosa Emmanuelle, do filme homônimo de Just Jaeckin.
Foi também o tempo do cinema que fez a sua parte nesses dois extremos, com o icônico A bela da tarde, de Luis Buñuel e o sentimental Um homem, uma mulher, assinado por Claude Lelouch.
Por essas e outras, cheguei a cursar em duas ocasiões distintas a Aliança Francesa, focado na mulher fatal que era Brigitte Bardot e na vasta literatura do país que misturava Charles Baudelaire e Honoré de Balzac.
Com isso, também tive as minhas ilusões perdidas e por elas sorri e chorei como todos os simples mortais. E também procurei no rosto de cada francês que por mim passou, resquícios de um povo miserável apresentado por Victor Hugo.
E por causa dele também fui à Catedral de Notre Dame para acender uma vela e pedir graças ao meu bom Deus. É bem verdade que não vi por lá o célebre concunda, mas a alegria de estar ali foi a mesma.
Ainda mais porque reconheci nas ruas da cidade o cenário de tantos filmes de Truffaut e de outros cineastas, e o lado irresistível de Sylvie Vartan.
Memórias e canções, poderia se dizer, provocadas pelo simbolismo da presença do presidente de um país que eu e todo mundo sonhava em conhecer um dia.
Nesse contexto, a cidade luz era o sonho de consumo dos casais em lua de mel, que num tempo sem Instagram registrava em máquinas Kodak passeios pelo rio Sena e planos abertos na frente da Torre Eiffel.
Por essa época ja haviam pessoas tocando acordeão em suas pontes, e também músicos desempregados que disputavam espaço no seu metrô.
Até mesmo, porque Paris foi e sempre será uma festa. Para os olhos e para o coração.
Vive la France.