Breves encontros
Alberto Arcela
Numa das raras viagens que fiz ao exterior, me hospedei uma única vez num hotel cinco estrelas, que ficava na Alexanderplatz, em Berlim. No hotel, funcionava um cassino e a música era de boa qualidade. Tanto assim que uma noite, ao cruzarmos a recepção fomos surpreendidos com uma big band que tocava Garota de Ipanema.
Pois bem. Foi nesse hotel luxuoso e inspirador que eu conheci o melhor e maior café da manhã, o tradicional breakfast. Imponente, ele ocupava quase um andar do prédio, disponibilizando um cardápio variado que incluía alguns tipos de feijão.
Bem mais tarde, vim descobrir que para eles o café da manhã é a principal refeição do dia e deve, por isso mesmo,ser consumido sem parcimônia.
Lembro que nesse tempo, saía de casa para a agência sem comer absolutamente nada. Até mesmo porque bebia na noite anterior e, quando muito, aceitava um cafezinho que se transformariam em vários no decorrer do dia.
Já então, nas grandes capitais, como o Rio e São Paulo, começavam a se formar grupos, quase sempre de amigos e colegas de trabalho que se reuniam em cafés e padarias para iniciar o dia com um bom café. Na cidade maravilhosa, destacava-se a confeitaria Colombo, mas na terra da garoa se comia bem e com muito conforto.
No meu caso, comecei a fazer disso um hábito cotidiano já no início do século vinte e um, na padaria Pão Doce Pão, no Bairro dos Estados. porque era próxima do escritório e tinha opções variadas de bolos e pães.
Lá, assinei o ponto durante muitos meses, até o pão, outrora dos anos jovens,ter que mudar de endereço. E mudei de mala e cuia para a Divina Misericórdia, no bairro de Manaíra, onde o café era grátis e a diversidade era maior.
Foram, sem dúvidas, os melhores cafés da minha vida, onde o alimento também era da alma. Havia um que de mistério no ar e uma troca de conhecimentos e sensações, que foram vencidos pela pandemia, mas se eternizaram nas minhas lembranças.
O que se seguiu, todo mundo sabe. O café ficou amargo com a partida de vários amigos de mesa e o mundo ficou menor. Sem eles e repartido de medos e esperanças entre quatro paredes.
Nada era mais divino e maravilhoso. E tocamos em frente. Eu e os amigos da confraria. Vida que segue.
Mais tarde, com a trégua da pandemia, juntamos os cacos e mudamos mais uma vez. Para um lugar chamado Eldorado, uma espécie de Xangri lá, a terra prometida onde todo mundo é feliz.
O que importa é que continuamos juntos, como tantos outros que ocupam mesas próximas de nós. E histórias é o que não faltam. Gente que se foi e gente que virá. O time que perdeu é o candidato que ganhou. A vida como ela é. Sem tirar nem por.
Melhor que isso só mesmo pedir um café para nós dois, num tempo que não volta mais. O certo é que o café da manhã fora de casa veio mesmo para ficar. Quando muito para não sujar a louça. É ótimo também para quem convive com a solidão.E ideal para quem mal sabe fritar um ovo.
Enfim, o programa perfeito para começar bem o dia.
Bom apetite.