Houve uma vez um verão
Alberto Arcela
O filme, de Robert Mulligan, é magistral e a trilha, de Michel Legrand, um espetáculo à parte. Numa praia bucólica, um adolescente, de férias, conhece e se apaixona por uma mulher mais velha, cujo marido lutava no campo de batalha.
O título original faz uma referência ao verão de 1942, quando o mundo estava em guerra, e me marcou como tantos verões que vivi, desde quando a cidade ainda gravitava em torno do rio, e as praias eram privilégios de poucos aventureiros que se apertavam em coletivos, que por sua vez rodavam quase sempre em estradas de terra.
Foram sucessivos verões de muito sol e águas mornas que encantavam quem por lá chegasse. No início, eram apenas algumas poucas casas como a de meu tio Paulo Barreto, onde costumávamos veranear, e mais uma ou duas dúzias de habitações, quase sempre à beira mar.
Já então se falava no primeiro sol das Américas, de modo que não demorou muito para que as pessoas de classe média alta e alguns formadores de opinião, trocassem os rios pelos sete mares.
O resto é história, evolução e diversidade. Em pouco tempo, as jangadas deixaram de sair sozinhas para o mar, porque haviam muitas outras embarcações no caminho. E os pescadores deram lugar aos caçadores de emoções que se deram conta da intensa beleza desse lugar.
E tudo isso passou na minha cabeça como um filme, de infinitos roteiros e traduções, de romances e de paixões, que transformaram a minha cidade no lugar singular de um coletivo plural.
Emoldurada por uma arte Inspiradora idealizada por Dann Costara, a João Pessoa do novo tempo é uma porta aberta para todas as tribos e respira natureza viva e sensualidade.
Bem cuidada, passou a ser a praia de todos, e o ponto de encontro de diferentes gerações e ideologias, acolhendo com seu aconchego quem busca a paz.
A paz de espírito, que se sobrepõe a guerra propriamente dita, que acontecia no verão de 42 em meio a uma história de amor. E é esse sentimento superior e infinito que encontra guarida na sombra dos coqueiros, se eterniza no sol que a todos cobre e também ilumina como o farol que vigia o mar.
Porque por aqui o amor está no ar e se espalha pelas matas urbanas e pela ilha, caprichosa, que tem hora certa para se mostrar.
É também uma terra de muita arte e musicalidade. Do baião ao jazz, do clássico ao contemporâneo, passando pelo frevo e o popular e pelas manifestações autênticas de sua cultura raiz.
Repaginada e planejada para atender a contento a sua gente, está no seu melhor momento, colhendo os frutos que plantou. Musa de admiradores e poetas, é a modelo perfeita para se contemplar e o lugar pleno para se ser feliz.
De um certo modo, vi uma beleza assim em uma amiga que posava nua numa escola de artes, até mesmo porque a minha referência de belo sempre foi o corpo de uma mulher.
E João Pessoa é assim. Conquista e seduz só de olhar, porque é o tal do amor à primeira vista.
E viva o amor.